23 junho 2008

Negror

A nau cortou o mar da noite sem fazer nenhum ruído. Ondas eram partidas sob seu casco como uma lâmina. As velas haviam sido recolhidas e remos treinados para o silêncio escuso de seu ofício empurravam adiante como as muitas patas de um gigantesco inseto, caminhando sobre a água.
No tombadilho o capitão sorria. A sua frente brilhavam fracas as poucas luzes da cidade, e o farol costeiro que atraiam o inseto venenoso. Em suas camas, as pessoas dormiam sem saber que seus olhos nunca mais se abririam. Quando o sol se levantasse, encontraria uma cidade em prantos, com homens agonizando e mulheres aos prantos. Não haviam grandes tesouros naquela cidade, a igreja, pelo que se lembrava, era uma velha construção de barro cozido. Seus habitantes viviam da pesca e da visita de baleeiros, mas não era época de se caçar baleias. A cidade, vivia uma tranqüilidade perturbada apenas pela preocupação pelo pão do dia seguinte.
Porém haviam outros bens, que o atraiam até ali. Bens, que em nada tinham com ouro ou pedras preciosas. Aquele homem maldito jamais deveria ter lhe negado a mão de sua filha, mas agora era tarde. Quando a manhã amanhecer... cinqüenta homens voltarão ao navio com cintos desatados e sorrisos maldosos no rosto. E ele estaria lá para assistir o veneno de seu barco, escorrendo por sobre as camas.
Texto: Diego Guerra
Pirata: Digs 'Pena Negra'