20 maio 2008

O aguardado fim.

A nave parou subitamente, entre as nuvens e permaneceu flanando suavemente ao balançar dos ventos. Aquilo só era possível porquê apenas parte dela estava naquele mundo, outra parte estava muito além dele, além do que qualquer um naquele pequeno planeta azul poderia compreender. Dentro dela, Ashtar Sharon permanecia em silêncio.
– Falta pouco, agora! – sua voz era um sussurro cansado, centenas de anos em silêncio haviam consumido as palavras, mas a ocasião era séria demais para simples telepatia.
Os outros tripulantes se colocaram ao lado do comandante enquanto uma imagem se projetava do chão da nave cortando uma escuridão tão profunda quanto todo espaço. A imagem era de uma brutalidade assustadora. Entre prédios semi destruídos um grupo de homens trocava tiros contra outro grupo que marchava ao lado de um tanque de guerra. Explosões se sucediam por todos os lados, homens simplesmente desapareciam em meio a uma nuvem de fogo, fumaça e pedaços de carne.
Alguns dos observadores viraram o rosto, mas Ashtar permaneceu onde estava, observando a tudo com uma impassibilidade triste. Recriminando-se por tudo o que não havia feito. Mas já havia feito muito.
– Todos estão a salvo? – a pergunta fora feita para si, mas isso não impediu um dos seus comandados de afirmar que sim, todos os que haviam sido iluminados tinham sido salvo. Exceto aqueles que tinham escolhido ficar.
Ashtar já havia feito resgates como aquele outras vezes e sabia que os melhores sempre ficavam para perecer com os piores. Mas eles já estavam salvos, seriam levados dali para um estágio muito mais puro. Não eram esses que o preocupavam, mas já não havia nada que pudesse fazer.
– É agora! – A imagem da sala mostrou um grupo de mísseis sobre os céus, quase cruzando com outro grupo de mísseis, na direção contraria. Houve um silvo longo e fúnebre pelo ar. Na cidade em ruínas os disparos e explosões silenciaram enquanto olhos perplexos olhavam para o céu. Uma mulher agarrou uma criança, dois jovens se beijaram, um homem sofreu um infarto. Uma velha senhora teve uma crise de risos. Uma luz brilhante ofuscou os olhos de Ashtar com o golpe de bilhões de almas deixando seus corpos.
A nave tripidou um pouco, pela energia que rasgava os universos. Ashtar chegou a temer ter estado perto demais. Mas não. No momento seguinte era tudo silencioso, como uma tumba. Ashtar balançou levemente a cabeça e sorriu para os seus companheiros.
– Vamos para casa. – Foram suas palavras. – A Terra já não existe mais.
Enquanto a nave se afastava, Ashtar deu uma última olhada para trás, em busca daquele pequeno ponto azul que por algum tempo impressionou tanto os Homens. Inspirando as palavras de Carl Sagan:
"(...) Nós podemos explicar o azul-pálido desse pequeno mundo que conhecemos muito bem. Se um cientista alienígena, recém-chegado às imediações de nosso Sistema Solar, poderia fidedignamente inferir oceanos, nuvens e uma atmosfera espessa, já não é tão certo. Netuno, por exemplo, é azul, mas por razões inteiramente diferentes. Desse ponto distante de observação, a Terra talvez não apresentasse nenhum interesse especial. Para nós, no entanto, ela é diferente. Olhem de novo para o ponto. É ali. É a nossa casa. Somos nós. Nesse ponto, todos aqueles que amamos, que conhecemos, de quem já ouvimos falar, todos os seres humanos que já existiram, vivem ou viveram as suas vidas. Toda a nossa mistura de alegria e sofrimento, todas as inúmeras religiões, ideologias e doutrinas econômicas, todos os caçadores e saqueadores, heróis e covardes, criadores e destruidores de civilizações, reis e camponeses, jovens casais apaixonados, pais e mães, todas as crianças, todos os inventores e exploradores, professores de moral, políticos corruptos, "superastros", "líderes supremos", todos os santos e pecadores da história de nossa espécie, ali - num grão de poeira suspenso num raio de sol. A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pensem nos rios de sangue derramados por todos os generais e imperadores para que, na glória do triunfo, pudessem ser os senhores momentâneos de uma fração desse ponto. Pensem nas crueldades infinitas cometidas pelos habitantes de um canto desse pixel contra os habitantes mal distinguíveis de algum outro canto, em seus freqüentes conflitos, em sua ânsia de recíproca destruição, em seus ódios ardentes. Nossas atitudes, nossa pretensa importância de que temos uma posição privilegiada no Universo, tudo isso é posto em dúvida por esse ponto de luz pálida. O nosso planeta é um pontinho solitário na grande escuridão cósmica circundante. Em nossa obscuridade, no meio de toda essa imensidão, não há nenhum indício de que, de algum outro mundo, virá socorro que nos salve de nós mesmos. (...)"

Mas não mais.
Não mais.

Autor: Diego Guerra: “Quando eu era pequeno, tinha medo do fim do mundo e acreditava que um dia eu teria que lutar com alienígenas para sobreviver!”
Citação: Carl Sagan
Inspiração: Uma tal Cientologia