06 julho 2007

Conto nas Estrelas!

O rádio relógio tocou as seis, destruindo os sonhos de Lucas. Aquilo se repetia toda manhã. No melhor parte da história, o relógio tocava deixando-o imerso nas possibilidades cujo fim ele jamais compreenderia. Lucas então se levantava, desligava o despertador e voltava para a cama, com a ilusão pouco realista de que seu sonho continuaria de onde havia parado, como se houvesse dado pausa em um filme. Não era assim que funcionava, e ele inevitavelmente acabava atrasado para o trabalho.
Naquela noite havia tido um sonho estranho. Um homenzinho verde, de cara enrugada falava alguma coisa que ele não compreendia e batia nele com a bengala por fazer alguma coisa errada. Havia perdido os detalhes e agora, rolando na cama com os olhos fechados, tentava descobrir o que era antes de bater a mão contra o despertador e tentar continuar o que havia perdido. O velhinho verde falava de um jeito engraçado, sua voz arranhava na garganta, em um esforço cansado. A musica do rádio relógio batia em seus ouvidos, dificultando seus pensamentos. Talvez devesse desligá-lo, jogá-lo de uma vez contra a parede. Entregar-se, finalmente, aos seus sonhos, deixando de lado toda aquela rotina monótona. Estava cansado do trabalho na oficina, sempre os mesmos problemas, sempre as mesmas queixas, e o cheiro de graxa que não saia de sua pele, nem com o melhor dos sabonetes. Estava cansado de acordar sabendo exatamente como seria o seu dia. Queria algo mais. Um pouco de ação e aventura. Lindas garotas de biquíni, lutas de vida ou morte. Guerras pelo destino do universo... qualquer coisa.
Talvez daqueles desejos nascessem aqueles sonhos de velhinhos verdes. O rádio berrou The Power of Love, de Huey Lewis and News, relembrando um dos filmes de sua infância. Michael J. Fox em perseguição de skate. Um clássico da sessão da tarde, revisto vezes sem conta. Ele cantarolou sem querer a música, queria se concentrar no sonho. Estendeu os dedos irritado, procurando pelo despertador e descobriu que o rádio estava do outro lado do quarto. Ele o havia colocado lá, para evitar de desligá-lo e acabar perdendo a hora. Agora teria que se levantar. O universo conspirava contra ele. Era um cavaleiro solitário lutando contra uma força maior. Subitamente, este pensamento ganhou forma, e finalmente ele se lembrou do sonho.
A mão se estendeu em direção ao rádio relógio e a voz do homenzinho verde ecoou outra vez em sua memória. “Use a Força, Lucas! Use a força!”
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Técnica: Letras sobre páginas.
Artista: Digs